Lívia Kriukas
Muito me indigna todas as vezes que acompanho nos noticiários que algum jornalista foi assassinado. Assim, como pessoas sonham em serem professores, médicos, psicólogos, advogados, dentre outras profissões, o jornalista, sonhou, estudou, se esforçou e se especializou para atuar no que ama fazer. Mas, infelizmente, vivemos em um país onde as pequenas e grandes mídias são administradas por políticos ou por grupos empresariais que visam somente o lucro. E, por sua vez, o profissional não pode veicular as informações, cem por cento verídicas e imparciais. Acredito sim na imparcialidade e na ética jornalística. Porém, atuando em veículos corrompidos, não se pode trabalhar com a veracidade dos fatos. Resultado: ou você se corrompe durante seu horário diário de trabalho, ou fica sem emprego, pois 99% visam interesses políticos ou comerciais.
Quando fico sabendo que mais um jornalista foi morto, me pergunto: até quando teremos que atuar na nossa profissão sendo omissos a tudo, fingindo que não vemos, ouvimos ou escutamos, para não sermos alvos de represálias? Ontem (29 de abril) uma jornalista renomada, Regina Martínez, da cidade de Xalapa, capital do Estado de Veracruz, no México, foi encontrada morta em sua residência com marcas de estrangulamento e com sinais de violência no rosto. De acordo com os dados da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Martínez é a quarta jornalista assassinada na região durante o último ano. Ao todo, no país, nove comunicadores foram mortos em 2012.
Recentemente a jornalista mexicana, havia feito o perfil dos políticos Reynaldo Escobar e Alejandro Montano, ambos são candidatos a deputado pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI). O motivo da morte ainda não foi apurado, mas tudo indica que foi execução por um possível acerto de contas. Aí entra a polêmica, será que somente os jornalistas das editorias de esporte, economia, cultura, moda e científica que podem trabalhar em paz, sem medos? Pois a maioria dos profissionais que escolhem noticiar sobre o meio investigativo e político, vivem entre elogios, críticas e, principalmente, ameaças. As duas vertentes envolvem, na maioria das vezes, assuntos polêmicos, maracutaias, corrupções, interesses e etc...
Não estou falando de um ou dois jornalistas mortos e, mesmo se estivesse, seria um caso sério. Mas estou falando de 911 jornalistas que foram assassinados no mundo, dentro do exercício da profissão, desde 1992 até agora. Sendo que destes, 565 são casos com total impunidade. Aí me vem à revolta, certos políticos, policiais e pessoas que se sentem acima de tudo e de todos devido ao poder que tem em mãos, usam e abusam para o lado negativo e não são mortos, muito menos punidos. Cabe a nós mostrarmos o que está acontecendo de bom e de ruim em nosso município, Estado, país e no mundo com imparcialidade e sem omissões. Entretanto, fazendo nosso dever, como representantes da sociedade, formadores de opiniões e integrantes do “quarto poder”, acabamos oprimidos pelos superiores.
Só no Brasil foram 21 mortes em 20 anos. O monitoramento é da organização independente do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). O comitê trabalha em mais de 120 países, revelando publicamente os abusos contra a imprensa e agindo em nome de jornalistas presos e ameaçados. Além disso, é responsável pela mais abrangente pesquisa anual sobre a liberdade de imprensa ao redor do mundo. A quantidade deixa o Brasil na lista dos 20 países mais mortais do mundo, ocupando o 11º lugar. Já quem lidera o ranking nada agradável, não poderia ser ninguém menos que o Iraque, com 151 jornalistas mortos.
Além das 21 mortes que marcam nosso país, outra quantia ainda está sem motivo confirmado. Oito jornalistas também fazem parte de uma lista distinta, onde ainda a justiça não conseguiu esclarecer os reais motivos dos assassinatos. Um fato curioso que me leva a crer no acerto de contas de possíveis corruptos do nosso Brasil ter envolvimento nessas mortes, é que 20 das 21 mortes foram assassinatos. Já a outra morte que completa o número, é a morte do repórter cinematográfico, Gelson Domingos da Silva, da TV Bandeirantes, morto em uma missão perigosa, em novembro de 2011, no Rio de Janeiro (RJ). Esse é nosso país, que se iguala aos outros em uma drástica estatística.
Eu, particularmente, adoro o investigativo, é algo que me instiga, me faz sentir como que se pudesse não só ser uma formadora de opinião, mas sim uma servidora da lei. A maioria que foi morta é de profissionais que atuavam no investigativo e na editoria de política. Só que isso não me abalará, jamais desistirei do meu sonho. Não acredito em sorte e sim em destino. O que tiver que ser será e não desistirei em me especializar na área em que eu quero de fato atuar.
CONFIRA A LISTA DOS 20 JORNALISTAS ASSASSINADOS QUE TIVERAM O MOTIVO DA MORTE CONFIRMADO:
Mario Randolfo Marques Lopes, Vassouras na Net
09 fevereiro de 2012, em Barra do Piraí (RJ)
Edinaldo Filgueira, Jornal o Serrano
15 de junho de 2011, em Serra do Mel (RN)
Luciano Leitão Pedrosa, TV Vitória e Rádio Metropolitana FM
09 de abril de 2011, em Vitória de Santo Antão (PE)
Francisco Gomes de Medeiros, Rádio Caicó
18 de outubro de 2010, em Caicó (RN)
Luiz Carlos Barbon Filho, Jornal do Porto, JC Regional e da Rádio Porto FM
05 de maio de 2007, em Porto Ferreira (SP)
José Carlos Araújo, da Rádio Timbaúba FM
24 de abril de 2004, em Timbaúba (PE)
Samuel Romã, Rádio Conquista FM
20 de abril de 2004, em Coronel Sapucaia (MS)
Luiz Antônio da Costa, Época
23 julho de 2003, em São Bernardo do Campo (SP)
Nicanor Linhares Batista, Rádio Vale do Jaguaribe
30 junho de 2003, em Limoeiro do Norte (CE)
Domingos Sávio Brandão Lima Júnior, Folha do Estado
30 de setembro de 2002, em Cuiabá (MT)
Tim Lopes, da TV Globo
03 de junho de 2002, no Rio de Janeiro (RJ)
Zezinho Cazuza, Rádio Xingó FM
13 de março de 2000, em Canindé de São Francisco (SE)
José Carlos Mesquita, TV Ouro Verde
10 março, 1998, em Ouro Preto do Oeste (RO)
Manoel Leal de Oliveira, A Região
14 jan 1998, em Itabuna (BA)
Edgar Lopes de Faria, FM Capital
29 outubro de 1997, em Campo Grande (MS)
Reinaldo Coutinho da Silva, Cachoeiras Jornal
29 de agosto de 1995, em São Gonçalo (RJ)
Aristeu Guida da Silva, A Gazeta de São Fidélis
12 de maio de 1995, em São Fidélis (RJ)
Marcos Borges Ribeiro, Independente
01 maio de 1995, em Rio Verde (GO)
Zaqueu de Oliveira, Gazeta de Barroso
21 de março de 1995, em Belo Horizonte (MG)
João Alberto Ferreira Souto, Jornal do Estado
19 de fevereiro de 1994, em Vitória da Conquista (BA)
OITO JORNALISTAS ASSASSINADOS COM MOTIVO NÃO CONFIRMADO
Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, Jornal da Praça e Mercosul Notícias
12 de fevereiro de 2012, em Ponta Porã (MS)
Vanderlei Canuto Leandro, Radio Frontera
01 de setembro de 2011, em Tabatinga (AM)
Auro Ida, Olhar Direto e Mídia News
21 de julho de 2011, em Cuiabá (MT)
Valério Nascimento, Panorama Geral
03 maio de 2011, em Rio Claro (SP)
José Givonaldo Vieira, Bezerros FM e Folha do Agreste
14 de dezembro de 2009, em Bezerros (PE)
Jorge Lourenço dos Santos, Criativa FM
11 de julho de 2004, em Santana do Ipanema (AL)
Mário Coelho de Almeida Filho, A Verdade
16 agosto de 2001, em Magé (RJ)
Natan Pereira Gatinho, Ouro Verde
11 janeiro de 1997, em Paragominas (PA)